“Sua voz, por ser grave demais, é quase sempre confundida com a de um homem.”
É o que diz na Wikipedia, nem sei como, porque é politica e socialmente incorrecto dizer-se que a voz de um homem se confunde quase sempre com a de um homem… Quase? É quase ofensivo.
Creio que é mais provável a Tracy Chapman ser um homem do que o José Castelo Branco heterossexual. Há 20 anos que penso assim.
Comecemos pela voz: é a de um homem. E não é “quase sempre”, é sempre. Não há um teledisco, uma entrevista, um arroto da Tracy Chapman que seja feminino. Aliás, do Tracy Chapman.
O nome, Tracy, é ambíguo. Tanto dá para mulher como para homem, e deve ter sido essa a razão da escolha para nome artístico. Não sei porque as pessoas associam Tracy a mulheres. Talvez seja porque a Tracy Lord é mais amplamente conhecida que o jogador de basquetebol Tracy McGrady. Dick Tracy e Spencer Tracy são famosos, mas como o Tracy está no apelido o povo não associa. Existe a variante “Tracey”, como a do actor Tracey Walter, mas é uma variante. Não adianta tentar achar razões para os preconceitos do vulgo. Hoje em dia são os órgãos de informação – as televisões, as revistas – que determinam o que é aceite como verdade, e esses quiseram, por alguma conspiração que me escapa, vender Tracy Chapman como mulher.
Quanto ao apelido, fizeram um mau trabalho. “Chapman”, terminando em “man”, não esconde grande coisa. Tem por origem “Chipman” ou “Shopman”, que quer dizer comerciante, vendedor… Vendilhão. Homem-vendilhão-que-cospe-no-chão. Irrevogavelmente masculino.
Houve uma clara intenção de promover a ambiguidade nos telediscos. Já viram o do “Fast Car”? Toda a gente já viu, já viu que não vê nada: tudo escuro, raramente se vislumbra mais do que um bocado do rosto do cantor. Nas poucas cenas claras ele não está. Canta na penumbra – para esconder o género. No “Crossroads”, põem-no numa sala escura, com um fraco ponto de luz que raramente varia de posição. Na maior parte do tempo a cara está na sombra. E o corpo nunca se foca. Isso é uma constante nos telediscos: ou não aparece o corpo, ou Tracy Chapman usa uma ampla guitarra para o ocultar. Em concertos ao vivo usa um cabelo parecido com o do Terence Trent D’Arby – para se esconder.
Por fim, os temas das canções, pejados de testosterona, não enganam. “Fast Car”: que género se interessa por carros rápidos? Masculino. “Talkin’Bout a Revolution”: quem é que se interessa tipicamente por política? Os homens. “Born to Fight”, “Bang Bang Bang”: luta, tiros, armas… homens. “I Used to Be a Sailor”… alguma dúvida?
Mas a realidade pode ser complexa. Pode ser uma disfunção hormonal, uma mudança de sexo, uma falsa impressão… Afinal há velhas com bigode e lésbicas parecidas com o Tony Ramos; há a obesidade mórbida, que faz certas pessoas na praia parecerem enchidos. Como é possível ter mesmo a certeza? A única maneira conclusiva seria um teste de ADN – pois façam-lhe o teste, ouçam a história dos genes e reponham a verdade. Eu não investigo mais do que isto porque tenho medo.